Prática em Construção

Uma Autoetnografia Musicoterapêutica em Chave Descolonial

Resumo

Este artigo oferece uma reflexão auto etnográfica sobre o pensamento decolonial na musicoterapia. A partir de experiências pessoais, como musicoterapeuta mexicano radicado na Alemanha (trabalhando com pessoas deslocadas, colaborando em projetos comunitários no México e nas Filipinas e participando de redes internacionais de pesquisa), são analisadas as formas como as perspectivas decoloniais na musicoterapia atravessam a prática musicoterapêutica do autor. São recuperadas contribuições fundamentais de autores que escreveram sobre o decolonialismo, como Enrique Dussel, Ramón Grosfoguel, Aníbal Quijano e Silvia Rivera Cusicanqui, bem como de colegas que abordam criticamente a colonialidade no campo da musicoterapia, como é o caso do CAMTI Collective. O texto propõe uma visão transmoderna e pluriversal, reconhecendo o valor do conhecimento situado, da subjetividade e do diálogo intercultural. Além disso, são oferecidas noções de como esses termos são usados nas experiências e no pensamento do autor. A partir dessa perspectiva, convida-se a pensar a descolonização não como um objetivo alcançável, mas como uma prática ética, crítica e em permanente construção, que requer sustentar um certo grau de desconforto com as estruturas mutáveis do saber e da prática, reconhecer contradições e abrir espaços de diálogo.

Comentário Editorial

O autor viveu em muitos lugares e reflete sobre isso neste ensaio, no qual nos convida a nos afastarmos de posições dogmáticas quando nos deparamos com o trabalho de colegas que pertencem a sociedades diferentes das nossas. Como diz Samuel, “o fato de estarmos imersos em sistemas coloniais implica que há dinâmicas das quais não podemos escapar completamente.” Sua proposta nos parece sensível aos fatores culturais das práticas profissionais, mas também exigente no que diz respeito ao pensamento crítico e à análise que elas requerem.